26 de fevereiro de 2015

Peregrinos

Vejo o peregrino, vestido de fé e anseios,
se aventurando em milenares caminhos,
na busca por si próprio.
Para ele não importa a aridez do chão,
ou a solidão dos próprios passos,
em todos os dias e noites 
de sacrifício à alma pelo corpo.
Assim como ele, o poeta se isola,
no anseio de traduzir o que sente
em palavras e versos do coração.
Da mesma forma ele se oferece à obra que escreve,
na religiosa tarefa de se tornar criador,
embora , peregrino, seja,
um caminhante à procura de luz.

Ímpar


Contavam as histórias de amor, que cada coração tinha seu par, e que, mesmo distantes, um sempre encontraria o outro.
Nas histórias, o destino se ocuparia de traçar rotas misteriosas, que sempre levariam aos finais felizes, por isso bastava esperar, e amar.
Por uma vida esperei meu par, e durante a espera, escrevi poemas de amor.
Nas linhas dos cadernos tracei caminhos para mãos dadas, descrevi beijos e criei canções. Nos cantos das páginas desenhei sóis amarelos e brilhantes, que aqueciam peles nuas e livres.  E nos rodapés, fiz longas praias para pés sem pressa.
Em meus poemas falei das estações, das muitas luas e estrelas que contei sozinha, guardando sonhos e desejos para noites que viriam. E quanto mais escrevia, mais me alimentava da ilusão daquele par, que traria no abraço o calor que me faltava.
Até que meus dedos se cansaram das palavras, e os olhos se turvaram sem esperança, deixando que a tristeza visitasse meu coração.
Fechei as janelas e encerrei a música.

E na penumbra da própria solidão, prometi a mim mesma nunca mais acreditar nas histórias de amor...



20 de fevereiro de 2015

Somos todos

Somos todos construídos de partes diversas,
que se agregam ou se soltam,
enquanto caminhamos e travamos lutas.
Partes que nos fortificam, ou nos enfraquecem,
nas empreitadas em que nos aventuramos.
Só uma força é capaz, apesar de tudo, de manter-nos
inteiros: o amor por nós mesmos, e a fé nos valores que escolhemos irradiar.
Por isso mesmo é que somos mais fortes do que imaginamos, e
capazes de superar as mais profundas dores.


4 de fevereiro de 2015

Olhar

Me encanta esse olhar sereno, na mãe embala o filho.
Eu o vejo também nas trocas cúmplices de grandes amigos, 
como naquelas de irmãos e irmãs.
É nas ruas que o percebo,
algumas vezes em almas solidárias  e caridosas,
ou nos seres abnegados, revestidos de fé.
Nos mais céticos, vejo um olhar relutante, 
disfarçado de inveja ou, por vezes, de pura tristeza.
Mas apesar de visível em tantas faces, 
só consigo decifrá-lo em um determinado momento:
naquele em que sou eu a olhar, 
reconhecendo o amor, em sua real essência, 
nos caminhos por onde vou.