O menino olhou para o
mar, além da extensa faixa de areia da praia.
Já não era pequeno, mas
aquela imensidão lhe pareceu desafiadora e inóspita.
Esperou, impaciente, a
mãe abrir um tubo de protetor solar e aplicar o creme nos seus braços, rosto e
costas.
Escutou, como todas as
vezes, as recomendações quanto a força das ondas, a distância de segurança, e o
tempo até a volta à sombra. A ansiedade era evidente: balançou os braços, desviou
os olhos para o mar a todo instante, deu pequenos passos no mesmo lugar.
E quando a mãe sorriu e
acenou com a mão, ele partiu em disparada.
Mas chegar ao seu destino
não foi fácil. Nos primeiros passos sentiu que a areia quente queimava
cruelmente os pequenos pés, e quando tentou correr afundou os tornozelos no
solo fofo e traiçoeiro. Mas era corajoso e perseverante, por isso avançou sem
olhar para trás.
Depois de vencer a etapa,
parou por um instante e sentiu a brisa salgada e o ar úmido. Por um momento
lembrou do pai, aconselhando-o a ser sempre cuidadoso. Pisou na areia molhada e
começou a rir, antecipando a vinda da próxima onda. Ela veio com uma força
inesperada, derrubando-o em meio a um turbilhão de sal, espuma e areia. Quando
pareceu se afogar, levantou-se de pronto, e encarou a próxima. Apesar de
resistir a princípio, foi novamente derrubado e jogado com força.
Daquela vez voltou à
segurança da areia, fora da água, sentindo o joelho cortado por uma concha e o
sal irritando os olhos e a garganta. Mesmo assim não desistiu, novamente avançou
para água e se jogou na onda que se formava.
Mergulhou por alguns
segundos e reapareceu um pouco adiante. Olhou ao redor, conferiu que tinha
conseguido superar a primeira, e mergulhou novamente. Acenou para a mãe e
mostrou, de longe, toda sua habilidade. Depois fez vários outros mergulhos,
brincou com as ondas, e correu pela linha da água até se sentir cansado e
faminto.
Voltou para perto da mãe
falando sem parar e descrevendo as brincadeiras.
“eu adoro a praia, mãe,
podemos voltar amanhã?”
A mãe o envolveu com a
tolha, tirando o cabelo molhado daqueles olhos grandes e inteligentes. Sabia
que ele não entenderia todos os seus sobressaltos, desde o momento em que ela o
vira se arriscar pela areia quente e mergulhar no mar. Tinha assistido,
fingindo estar lendo, ele se jogar nas ondas e comemorar cada vez que ficava de
pé.
Algumas vezes tinha
corrido assustada pela areia, contando mentalmente os segundos em seus
mergulhos, temendo que ele se afogasse. Ao vê-lo em segurança, voltava ao seu
lugar.
Sabia que ele tinha
criado aventuras, se fazendo de mergulhador, herói e poderoso em lutas no mar
bravio e ameaçador.
Mas, acima de tudo, tinha
superado um medo inicial e tentara várias vezes até conseguir.
Voltara com mais
segurança em si mesmo, e naquele momento esperava uma resposta.
“claro, filho, voltaremos
amanhã !”
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