Era o último
mês de aulas para George.
Ele tinha
acumulado vitórias naquele ano, ganhando medalhas e elogios dos professores, por
ser o mais esforçado e aplicado da sala de aula. Mesmo tendo assegurado sua
aprovação, mantinha-se com o mesmo ritmo de estudo, e interesse pelos mais
diversos assuntos.
Mas não era
fácil para ele. Seus pais eram implacáveis com relação às obrigações do garoto,
limitando, inclusive, seus momentos de diversão e convivência com os poucos
amigos que tinha. Com horários rígidos, e sob constante observação de babás e
monitores, tinha se tornado um menino calado, tímido, e muito solitário. Via os
pais durante os jantares de toda noite, em que as conversas pareciam mais
relatórios sobre o que tinha feito, e comentários sobre o quanto esperavam
dele.
Uma vez por
ano, em seu aniversário, recebia a visita daqueles avós que chegavam cheios de
alegria, biscoitos e abraços. George sabia que eles moravam longe, e faziam um
esforço enorme para nunca faltar àquela essa visita anual, promessa que fizeram
quando ele era ainda pequeno demais para entender. Neste ano, eles ficaram
poucas horas e partiram com lágrimas nos olhos, depois que ele se agarrara à
avó pedindo que ela ficasse e contasse mais uma daquelas histórias que só ela
sabia.
George adorava
as histórias contadas. Sentava ao lado da avó no sofá, deixando que ela o
envolvesse com um dos braços, e enquanto observava as figuras no livro que ela
abria no colo, ouvia a voz suave e melodiosa falar de aventuras e heróis mágicos,
em mundos que só quem acreditava conhecia. Naqueles momentos, o avô se sentava
na outra poltrona acompanhando tudo, rindo com ele nas cenas engraçadas, e
arregalando os olhos ou dando uma piscada quando as batalhas nas histórias eram
vencidas. Ao fim da história, o livro voltava para a bolsa da avó, mas o
assunto era revivido por algum tempo, nas perguntas e explicações que se
sucediam entre os três.
Foi então que
na escola, chegando ao final do ano, foi apresentado um último tema: o Natal.
A professora
explicou os festejos e falou do Menino Jesus, que nascera trazendo esperança ao
mundo. Com os ouvidos e olhos atentos, George escutou uma história que ele não
conhecia, sobre uma fuga guiada por uma estrela mágica, e um nascimento em uma
manjedoura onde os pais humildes passavam a noite. Soube que todos os anos, no
aniversário de Jesus, as pessoas comemoravam exaltando bons sentimentos e se
mantendo unidas em pedidos de paz e harmonia. Ao final dos trabalhos, todas as
crianças ajudaram na decoração da escola, e fizeram um lanche juntos,
aprendendo sobre os valores da convivência entre todos. Para alegria geral, cada
criança recebeu um livro de presente, onde lindas figuras mostravam a Santa
Família e um presépio iluminado por uma enorme estrela.
George ficou
especialmente impressionado pela história de Natal. Passou dias pesquisando sobre o assunto, e
querendo saber dos colegas se já haviam participado de algum daqueles “aniversários”
de Jesus. Apesar de tão comentado na escola, na sua casa o assunto não foi
mencionado. Seus pais eram indiferentes ao sentido da data, embora sempre
deixassem um presente no seu quarto, a cada ano. Por essa razão, ele guardara o
livro no quarto, imaginando como seria bom mostrá-lo aos avós.
Mas a cada dia,
criança que era, foi dominado pela emoção e ansiedade pela data. Um dia antes
da Noite de Natal, não conseguindo esperar mais, e com uma habilidade precoce,
traçou um plano para mostrar o livro aos avós: aproveitou a saída dos pais e
chamou um taxi para levá-lo ao endereço que encontrara na agenda perto do
telefone.
Não teve medo,
sentia-se seguro usando seu grande casaco de frio e levando o livro de Natal
debaixo do braço.
George nunca
tinha visitado a casa dos avós, mas ao tocar a campainha daquela pequena casa
cercada de jardins, foi tomado por uma grande alegria. Ouviu com prazer o andar
arrastado do avô se aproximando, e o grito de surpresa ao abrir a porta. A avó
chegou logo atrás, já com os braços abertos para um abraço carinhoso.
A casa era
muito simples, bem diferente daquela em que vivia, mas ele percorreu cada
cômodo com curiosidade. Gostou das cortinas feitas pela avó, dos livros do avô
sobre a mesinha de canto, do tapete aos pés de um velho sofá com almofadas
coloridas e de um cheiro irresistível dos biscoitos que recém tinham saído do
forno.
Em um canto da
sala, se encantou com uma enorme árvore de Natal. Sobre o aparador viu um
pequeno presépio, com todos os personagens que reconheceu como os mesmos do
livro.
O garoto
percebeu que os avós já conheciam a história, e por alguns segundos teve medo
que não quisessem ver o seu livro. Muito sério, explicou a razão da visita, e
perguntou se podiam fazer um aniversário de Jesus naquela casa.
Bastou uma
troca de olhares, para que os avós entendessem tudo. Com o garoto no colo, a
avó folheou o livro mais de uma vez, comentando a história contada durante anos
e anos, por todos os povos. Depois levou o neto para a cozinha, para que
provasse os biscoitos enquanto falavam da festa que fariam.
George se
divertia fazendo perguntas o tempo todo. Não percebeu quando o avô fez a
ligação telefônica para os seus pais, nem ouviu a longa conversa que se seguiu
entre eles.
Mais tarde foi
acomodado no quarto preparado para ele anos atrás, e até então nunca usado.
Adormeceu olhando para a fotografia ao lado da cama, em que ele, recém-nascido,
dormia nos braços da avó sorridente, ao lado do avô e dos pais.
No dia seguinte
participou de todos os preparativos para a ceia, e aguardou ansioso a chegada
dos pais. Quando todos estavam presentes, insistiu na oração e cumprimentos de
todos repetindo a importância da data, conforme aprendera na escola.
Por fim, foi
para o colo da avó, levando o livro da história de Natal.
Lindo conto, com a sua doçura costumeira. Que este ano também traga um Feliz Natal.
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