Já é quase Natal, e a
fábrica trabalha a todo vapor.
Nos
últimos meses tenho me dedicado a ler os pedidos das crianças, e agora falta pouco
para atendê-los. Este ano Alabaster, o administrador da
correspondência, me apresentou, além das cartas, milhares de e-mails. Foi uma
inovação das crianças, e precisei da ajuda dos elfos mais jovens para entender algumas palavras. Alguns pedidos acrescentaram relatos
pessoais e fotografias da decoração de Natal em suas casas. Uns poucos
resolveram detalhar mais, e anexaram links das lojas onde viram brinquedos e
livros para que eu olhasse. Foi cansativo, mas é muito importante
atender a todos.
Hoje observei durante
todo o dia a movimentação frenética dos meus auxiliares. O sincronismo da
produção foi admirável: alguns montaram, outros separaram, e os mais jovens embalaram
os brinquedos que entregarei neste Natal. Agora estão começando a levar tudo
para o trenó, para que eu possa finalmente partir.
Escutei Mamãe Noel terminando
o jantar na cozinha. Ela também esteve muito ocupada hoje, cortando fitas e
preparando os lindos laços dos presentes. Ela também conferiu todos os mapas
que os elfos navegadores prepararam, e mandou instalar um novo GPS no painel do
trenó, para que eu não me perca e possa voltar em segurança. Apesar da pressa,
e da enorme quantidade de pacotes, ainda encontrou tempo para preparar nossas refeições.
Pude ver pela janela que a
maioria das renas se abrigou junto ao velho pinheiro do jardim, fugindo da densa
neve que caiu o dia todo. Vi Rudolph, a rena mais antiga, um pouco mais à
frente. Me encarava com aqueles enormes olhos castanhos, aguardando o chamado
para assumir a liderança das outras.
Aproveitei o pouco tempo que
restava para me sentar na poltrona perto da lareira. Had, o velho husky
siberiano, me acompanhou e se deitou no tapete, aos meus pés. Este ano não o
levarei comigo, para poupa-lo do esforço em noite tão fria.
Comecei a pensar na
responsabilidade de visitar tantos lares. Nem todos têm a mesa farta e muitos
presentes, mas mesmo assim permanecem repletos de fé e esperança. Muitas vezes,
em anos anteriores, percebi a dúvida nos olhinhos espertos das crianças
maiores, mas não durava muito, depois que viam que seus pedidos tinham sido
atendidos. Quanto aos adultos, sempre me receberam com muita alegria, talvez
por recordarem de suas próprias infâncias, e por contarem comigo todos os anos,
em noite mágica e abençoada.
Já não preciso descer por
lareiras apertadas, ou entrar furtivamente pelas janelas. Sou sempre recebido à
porta com abraços carinhosos, independente da moradia. Já estive em mansões e
casebres, e até mesmo em becos escondidos em grandes cidades, e o espírito
natalino sempre esteve lá, nos corações, nos olhos e sorrisos.
Sei que enquanto todos
acreditarem, estarei em seus lares, ano após ano. Este é meu maior estímulo.
Há pouco o alarme do
relógio começou a tocar, e me levantei com disposição. Mamãe Noel se aproximou
com um novo cachecol que enrolou no meu pescoço. “Seu presente”, ela disse. Me
lembrei que não lhe comprara nenhum, e envergonhado lhe envolvi em um abraço.
Ela entendeu, tenho certeza.
Abri a porta e vi o trenó
já preparado, com Rudolph na posição habitual, à frente. Ela também ganhou um
cachecol. “Estamos velhinhos, minha amiga” – falei enquanto acariciava seu pelo
– “não podemos nos resfriar”.
Já estava acomodado, e
prestes a dar a ordem de partida, quando um dos elfos chegou apressado com um
pequeno pacote: eram as rabanadas para comer no caminho...
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