Eu o vi a caminhar pela praia.
Não olhava apenas para o mar, mas também para a areia,
e as nuvens estavam refletidas nos seus olhos como eram
vistas no céu,
nos braços do vento.
Talvez fosse fotógrafo, ou poeta, pois registrava detalhes
que outros não viam.
Seus olhos descobriam cores e nuances, e seus dedos
percorriam com carinho todas as formas e tamanhos que encontrava.
Seguia contando histórias embriagadas de doce melancolia,
e sua voz pairava no ar por um momento apenas, antes de ser
diluída pela brisa.
Fazia paradas, erguia os olhos para o céu, e acompanhava
admirado o voo sem limites das gaivotas.
Parecia caminhar sem destino, mas no fim de cada dia voltava
ao seu lugar, e
se entregava à dor de tudo ver e tudo sentir, deixando que
lágrimas caíssem de seus olhos exaustos.
Nessas horas, não reclamava dos pés feridos por longas
caminhadas, mas da rapidez com que os dias chegavam ao fim.
Para que nada se apagasse, escrevia poemas, de todos os
olhares que o mundo lhe dera.