21 de junho de 2020

O Bosque


Havia um grande bosque nas redondezas da cidade.

Dizia-se que tinha sido idealizado por um nobre italiano, que determinara a seus jardineiros que as árvores fossem plantadas de forma peculiar, para que ninguém conseguisse atravessar até o centro, onde construíra a casa para família, e se perdesse pelo caminho.
Muitos tentaram atravessá-lo, e nunca mais foram vistos.

Com o passar do tempo histórias de entes estranhos, como sombras andando sob as árvores, surgiram entre os moradores que, temerosos, desistiam de chegar à casa do nobre.

Mas o estranho bosque acabou atingindo o seu próprio criador. Seu único filho, sem se lembrar do perigo, um dia caminhou rumo às árvores e desapareceu.
Homens contratados, amarrados com enormes cordas, percorreram o bosque em todas as direções. Cada pedaço do terreno foi vasculhado à procura da criança. Nem mesmo o lago foi poupado: redes varreram as águas, sem encontrar qualquer vestígio. Durante noites seguidas chamaram pelo nome da criança, quebrando o silêncio e a quietude do lugar.
Por fim, depois de meses, esgotados e sem esperança, desistiram de procurar.

O nobre e sua esposa partiram. Viajaram pelo mundo, devastados pela tristeza.
No bosque, só os animais foram percebendo uma sutil diferença acontecendo ao longo dos anos: a cada desaparecimento, uma nova árvore surgia. A última foi um frondoso salgueiro, próximo à casa. Em tardes de ventania viam seus galhos se agitando, como se fossem braços de uma criança, tentando pegar os passarinhos.