14 de janeiro de 2017

O Velho na Estação

Eu acabara de abrir o meu novo livro, disposta a ler enquanto esperava o trem, quando o velho senhor sentou ao meu lado. Eu já o tinha visto no lado oposto da plataforma, e havíamos trocado um cumprimento. Observei que ele tinha uma dificuldade para se locomover e sentar, talvez pela idade, por isso abri um sorriso e lhe estendi a mão para ajudar.
Ele tinha um sorriso tímido, mas os olhos brilhavam. Depois de um minuto em silêncio perguntou meu nome, e o que eu fazia ali. Escutou balançando a cabeça, e começou a me contar sua história.
Tinha vindo encontrar o filho único, que partira da cidade pequena para estudar. Se passaram vinte anos, sem qualquer notícia, até receber o chamado para visita-lo.
Me contou que o convite veio através do recado de um parente que morava em uma cidade próxima, já que onde vivia não tinha sequer rede elétrica ou telefônica, e mesmo cartas não eram entregues pelos correios. Tinha viajado durante toda a noite, e deveria esperar mais algum tempo até a chegada do filho.
Perguntei-lhe se reconheceria o filho, depois de tanto tempo. Ele pensou um pouco antes de responder, como se não tivesse pensado na possibilidade:
“meu coração vai reconhecer, com a ajuda de Deus”
Ele segurava uma mala pequena, que não abandonou nem mesmo quando busquei cafés e retomamos a conversa.
Falou do seu garoto magro e sério, sempre carregando os cadernos da escola por onde ia, mostrando aos amigos o que aprendera naquele dia. Um dia chegara acompanhado da professora, e ambos explicaram a oportunidade oferecida pelo internato em uma cidade longe dali. Não custaria nada, mas ficariam muito tempo sem se encontrar.
O tempo foi muito maior do que ele imaginava. Depois da escola veio um trabalho ainda mais longe do lugar, e algum tempo depois deixou de receber notícias. O filho não soube da doença e morte da mãe, e nem mesmo do ferimento que o pai sofreu em ambas as pernas enquanto trabalhava na roça.
O velho tinha medo dos trens, mas se arriscara a vir. “Quero ver meu filho antes de morrer...”
Nossa conversa foi interrompida por um garoto, vindo não sei de onde, que ao tocar o braço do senhor, perguntou: “Vovô?”
É impossível descrever a emoção que vi em seus olhos naquele momento. O tempo pareceu se dissolver enquanto pai, filho e neto se abraçavam, e as palavras não eram necessárias.

Foram caminhando da mesma forma, juntos e silenciosos, mas eu pude ouvir, de longe, os corações repletos de alegria. 

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