26 de fevereiro de 2015

Ímpar


Contavam as histórias de amor, que cada coração tinha seu par, e que, mesmo distantes, um sempre encontraria o outro.
Nas histórias, o destino se ocuparia de traçar rotas misteriosas, que sempre levariam aos finais felizes, por isso bastava esperar, e amar.
Por uma vida esperei meu par, e durante a espera, escrevi poemas de amor.
Nas linhas dos cadernos tracei caminhos para mãos dadas, descrevi beijos e criei canções. Nos cantos das páginas desenhei sóis amarelos e brilhantes, que aqueciam peles nuas e livres.  E nos rodapés, fiz longas praias para pés sem pressa.
Em meus poemas falei das estações, das muitas luas e estrelas que contei sozinha, guardando sonhos e desejos para noites que viriam. E quanto mais escrevia, mais me alimentava da ilusão daquele par, que traria no abraço o calor que me faltava.
Até que meus dedos se cansaram das palavras, e os olhos se turvaram sem esperança, deixando que a tristeza visitasse meu coração.
Fechei as janelas e encerrei a música.

E na penumbra da própria solidão, prometi a mim mesma nunca mais acreditar nas histórias de amor...



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