22 de novembro de 2016

Um Natal para George

Era o último mês de aulas para George.
Ele tinha acumulado vitórias naquele ano, ganhando medalhas e elogios dos professores, por ser o mais esforçado e aplicado da sala de aula. Mesmo tendo assegurado sua aprovação, mantinha-se com o mesmo ritmo de estudo, e interesse pelos mais diversos assuntos.
Mas não era fácil para ele. Seus pais eram implacáveis com relação às obrigações do garoto, limitando, inclusive, seus momentos de diversão e convivência com os poucos amigos que tinha. Com horários rígidos, e sob constante observação de babás e monitores, tinha se tornado um menino calado, tímido, e muito solitário. Via os pais durante os jantares de toda noite, em que as conversas pareciam mais relatórios sobre o que tinha feito, e comentários sobre o quanto esperavam dele.
Uma vez por ano, em seu aniversário, recebia a visita daqueles avós que chegavam cheios de alegria, biscoitos e abraços. George sabia que eles moravam longe, e faziam um esforço enorme para nunca faltar àquela essa visita anual, promessa que fizeram quando ele era ainda pequeno demais para entender. Neste ano, eles ficaram poucas horas e partiram com lágrimas nos olhos, depois que ele se agarrara à avó pedindo que ela ficasse e contasse mais uma daquelas histórias que só ela sabia.
George adorava as histórias contadas. Sentava ao lado da avó no sofá, deixando que ela o envolvesse com um dos braços, e enquanto observava as figuras no livro que ela abria no colo, ouvia a voz suave e melodiosa falar de aventuras e heróis mágicos, em mundos que só quem acreditava conhecia. Naqueles momentos, o avô se sentava na outra poltrona acompanhando tudo, rindo com ele nas cenas engraçadas, e arregalando os olhos ou dando uma piscada quando as batalhas nas histórias eram vencidas. Ao fim da história, o livro voltava para a bolsa da avó, mas o assunto era revivido por algum tempo, nas perguntas e explicações que se sucediam entre os três.
Foi então que na escola, chegando ao final do ano, foi apresentado um último tema: o Natal.
A professora explicou os festejos e falou do Menino Jesus, que nascera trazendo esperança ao mundo. Com os ouvidos e olhos atentos, George escutou uma história que ele não conhecia, sobre uma fuga guiada por uma estrela mágica, e um nascimento em uma manjedoura onde os pais humildes passavam a noite. Soube que todos os anos, no aniversário de Jesus, as pessoas comemoravam exaltando bons sentimentos e se mantendo unidas em pedidos de paz e harmonia. Ao final dos trabalhos, todas as crianças ajudaram na decoração da escola, e fizeram um lanche juntos, aprendendo sobre os valores da convivência entre todos. Para alegria geral, cada criança recebeu um livro de presente, onde lindas figuras mostravam a Santa Família e um presépio iluminado por uma enorme estrela.
George ficou especialmente impressionado pela história de Natal.  Passou dias pesquisando sobre o assunto, e querendo saber dos colegas se já haviam participado de algum daqueles “aniversários” de Jesus. Apesar de tão comentado na escola, na sua casa o assunto não foi mencionado. Seus pais eram indiferentes ao sentido da data, embora sempre deixassem um presente no seu quarto, a cada ano. Por essa razão, ele guardara o livro no quarto, imaginando como seria bom mostrá-lo aos avós.
Mas a cada dia, criança que era, foi dominado pela emoção e ansiedade pela data. Um dia antes da Noite de Natal, não conseguindo esperar mais, e com uma habilidade precoce, traçou um plano para mostrar o livro aos avós: aproveitou a saída dos pais e chamou um taxi para levá-lo ao endereço que encontrara na agenda perto do telefone.
Não teve medo, sentia-se seguro usando seu grande casaco de frio e levando o livro de Natal debaixo do braço.
George nunca tinha visitado a casa dos avós, mas ao tocar a campainha daquela pequena casa cercada de jardins, foi tomado por uma grande alegria. Ouviu com prazer o andar arrastado do avô se aproximando, e o grito de surpresa ao abrir a porta. A avó chegou logo atrás, já com os braços abertos para um abraço carinhoso.
A casa era muito simples, bem diferente daquela em que vivia, mas ele percorreu cada cômodo com curiosidade. Gostou das cortinas feitas pela avó, dos livros do avô sobre a mesinha de canto, do tapete aos pés de um velho sofá com almofadas coloridas e de um cheiro irresistível dos biscoitos que recém tinham saído do forno.
Em um canto da sala, se encantou com uma enorme árvore de Natal. Sobre o aparador viu um pequeno presépio, com todos os personagens que reconheceu como os mesmos do livro.
O garoto percebeu que os avós já conheciam a história, e por alguns segundos teve medo que não quisessem ver o seu livro. Muito sério, explicou a razão da visita, e perguntou se podiam fazer um aniversário de Jesus naquela casa.
Bastou uma troca de olhares, para que os avós entendessem tudo. Com o garoto no colo, a avó folheou o livro mais de uma vez, comentando a história contada durante anos e anos, por todos os povos. Depois levou o neto para a cozinha, para que provasse os biscoitos enquanto falavam da festa que fariam.
George se divertia fazendo perguntas o tempo todo. Não percebeu quando o avô fez a ligação telefônica para os seus pais, nem ouviu a longa conversa que se seguiu entre eles.
Mais tarde foi acomodado no quarto preparado para ele anos atrás, e até então nunca usado. Adormeceu olhando para a fotografia ao lado da cama, em que ele, recém-nascido, dormia nos braços da avó sorridente, ao lado do avô e dos pais.
No dia seguinte participou de todos os preparativos para a ceia, e aguardou ansioso a chegada dos pais. Quando todos estavam presentes, insistiu na oração e cumprimentos de todos repetindo a importância da data, conforme aprendera na escola.
Por fim, foi para o colo da avó, levando o livro da história de Natal.




Um comentário:

  1. Lindo conto, com a sua doçura costumeira. Que este ano também traga um Feliz Natal.

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